O Colégio Estadual Anísio Teixeira, em Palmas de Monte Alto, prestou uma homenagem em texto e vídeo ao saudoso professor Almerindo Nascimento, que faleceu em um trágico acidente ocorrido no último dia 8 de agosto, na BR-030, em Palmas de Monte Alto (BA). Almerindo trabalhou por muitos anos no Colégio Municipal Eliza Teixeira de Moura, onde exerceu o cargo de professor de Geografia. Atualmente, ele lecionava no Colégio Estadual Anísio Teixeira.
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Não há dúvidas de que estamos vivendo um tempo incerto e efêmero. Aqui, embora as nossas palavras sejam insuficientes, serão elo para revelar como foi nossa convivência com o amigo, irmão e professor Mera no Colégio Estadual Anísio Teixeira.
Todos sabem que escolas têm inúmeras reuniões, e cá entre nós, algumas um tanto longas e cansativas. Em algumas delas, ele ia embora, de fininho, sem ninguém perceber e sem assinar a lista de presença. E, desse mesmo modo, Mera partiu, silenciosamente, sem dizer tchau.
Ele saiu de cena e, agora, alguns questionamentos não querem calar:
_ Quem vai olhar para o céu em novembro e prever a chuva com tanta propriedade?
_ Quem vai fazer das palmas das mãos, agenda, escrevendo afazeres até na ponta do último dedo?
_ Quem vai reclamar que o datashow não funciona e sair resmungando com a caderneta debaixo do braço rumo à sala de aula?
_ Quem vai pegar os eletrônicos sem reservar relatando que é porque faz a usucapião ou porque é o direito dos mais velhos?
_ Quem vai transportar os ornamentos da cidade toda que Line pede para os eventos da escola, reclamando e sorrindo ao mesmo tempo?
_ Quem vai formar o trio imbatível de “faz tudo” com Seu Quinca e o professor Joaquim?
_ Quem vai montar e decorar aquela linda fogueira em nossa festa junina?
Todos desta casa respondem: Ninguém! Ninguém vai ocupar todos esses espaços que ele ocupava, realizar todas as funções que desempenhava; ninguém conseguirá delimitar a presença que ele tinha em nossas vidas! Muitos dizem que ninguém é insubstituível, mas ele sim, porque era raro. Afinal, quem deixava os alunos eufóricos e arrancava os maiores aplausos no primeiro dia de aula, era ele – o grande Mera!
O professor que conquistou uma legião de alunos, em 17 anos de ensino no CEAT, por sua autenticidade, por não seguir padrões e, principalmente, por gostar de gente, porque para ensinar, primeiro é preciso gostar de gente, de estar no meio das pessoas, para falar e ser escuta ativa.
Certa vez, em um diálogo com a professora Vaniclézia, ele, gentilmente, esclarecia uma dúvida dela de geografia, e ela lhe disse em tom de admiração: “tenho inveja dos meus colegas professores, pois muitos deles já foram seus alunos. Queria ter assistido a uma aula sua, queria ter sido sua aluna”. Além de pedir para ela falar baixo, porque trabalhar com aqueles que já foram seus alunos poderia revelar sua idade, pediu para parar de falar besteira. Ele era modesto demais para admitir sua grandiosidade como pessoa e profissional. E ela encerrou a conversa dizendo: “mas não tem problema, ainda bem que sou sua amiga e com você sempre vou aprender”. Pena que o sempre foi breve!
E quão vasto era o conhecimento dele! O seu saber não cabia nos livros. Era conhecedor de tanto sem desmerecer ninguém, por isso era diplomado em simplicidade. Parecia que o mundo estava dentro da sua cabeça, principalmente essa terra em que pisamos: ele conhecia toda a zona rural da cidade, a distância entre as localidades sem GPS, os rios que cortam a região e os que já não existem mais; as nascentes, as espécies de plantas desse sertão, o solo árido e todos os seus tipos de rochas, a nossa serra, e cada metro dela.
Ah… a serra! Não tenham dúvidas, a Serra dos Montes Altos é mais bonita porque ele falava com paixão, poeticamente e com apreço, tanto que sua camiseta mais usual estampava as belezas daquele lugar. Ele difundia a necessidade de preservar esse patrimônio natural, um ato típico de um professor que ensinava além dos muros da escola. E, ensinar além dos muros da escola é tarefa que só educador sabe fazer porque se preocupa com o ser em toda a sua plenitude, em sua inteireza.
Como era bom trabalhar com ele! Rir com ele! Perceber a sua doçura revestida de rabugice, que chegava a ser engraçada. Curioso que Mera se relacionava bem com todos; fineza, respeito e empatia eram constantes em suas atitudes. Novamente, sua autenticidade saltava aos olhos com simplicidade, sem frescura e sem clichês. E isso era inspirador, porque nos fazia lembrar a importância da verdade e da transparência, que ele carregava naturalmente.
Depois que atravessarmos este momento de pandemia e retornarmos às atividades diárias, certamente lembraremos dele, daquele jeito de caminhar, displicente e ao mesmo tempo determinado. Entre uma aula e outra, o café não terá o mesmo sabor sem o seu sorriso largo para nos alegrar. Todas as vezes em que a palavra Geografia for mencionada, a ele nossas mentes nos remeterá. Todas as festas tentaremos preparar com o mesmo esmero que ele apreciava. Afinal, atitudes diferenciadas, como a dele devem ser disseminadas. Se o Colégio Estadual Anísio Teixeira fosse um ser, Almerindo seria suas mãos e pernas e grande parte de sua alma, alimentada com muito afeto e dedicação.
Lembram das reuniões que relatamos? Pois é, desta vez nem vimos quando ele saiu de mansinho da nossa companhia. Então, mesmo de longe, dizemos: Adeus, querido amigo!
Agradecemos ao Senhor por termos convivido com o professor Mera, intensamente, esse tempo tão raro, tão precioso. Acreditamos, que “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu”. (Eclesiastes, 3:1).
Deus abençoe e conforte os familiares e todos nós que amamos o professor Almerindo Soares Nascimento.
Deixamos registrada a nossa gratidão, admiração e respeito. Muito obrigado!
Colégio Estadual Anísio Teixeira
Palmas de Monte Alto, 16 de agosto de 2020.